O Dia Nacional do Choro

  • 23/04/2021

O Dia Nacional do Choro

O DIA NACIONAL DO CHORO, instituído em 23 de abril de 2001, é comemorado no dia do aniversário de Alfredo da Rocha Vianna Filho, mais conhecido como Pixinguinha, expressão máxima do choro, gênero genuinamente carioca, que se expandiu do Rio de Janeiro para todos os cantos do Brasil, e do Brasil para o mundo!

Até chegar em Pixinguinha, um longo caminho foi trilhado por músicos como o maestro e compositor Joaquim Antônio da Silva Callado (1848/1860), considerado por muitos como o pai do choro, provavelmente em função do grupo que organizou, conhecido como Choro do Callado, com flauta, violões e cavaquinho. Muitos hão de se lembrar da sua música mais conhecida, a polca Flor Amorosa. Outro nome importante, Anacleto Medeiros, nasceu na Ilha de Paquetá, em 1866 e faleceu em 1907. Entre suas composições, destacamos Os Boêmios, Três Estrelinhas e Iara. A maestrina Chiquinha Gonzaga, outro nome de fundamental importância para a criação do choro, nasceu em 1847 e faleceu em 1935. Filha de José Basileu Neves Gonzaga, um ilustre militar do império, com Rosa, filha de uma escrava, Chiquinha teve sua vida marcada por escândalos, como sua separação do primeiro marido, para viver uma grande paixão e, tempo depois, por se unir a um homem bem mais novo do que ela, entretanto, foi suficiente interromper sua vitoriosa trajetória artística. Seu tango Corta Jaca, música que causou escândalo ao ser exibida no Palácio do Catete em 1914, pela então Primeira-Dama, é peça obrigatória nas rodas de choro ainda nos dias de hoje. Ernesto Nazareth (1863/1934) é um dos nomes mais expressivos do choro, denominação essa que ele não fazia uso em suas composições. Ele as denominava por tangos, e não choros...podemos mencionar várias de suas obras, sendo Odeon sua música mais conhecida, feita em homenagem ao cinema de mesmo nome, onde ele animava a sala de espera com seu piano.Outras composições suas relativamente conhecidas são Brejeiro, Apanhei-te Cavaquinho e Tenebroso, esta dedicada ao lendário violonista e compositor Satyro Bilhar.

Da fusão e adaptação de danças europeias, como a polca, valsa, schottish, com ritmos de origem africana, como o lundu e o batuque, e também do maxixe, que tem origem na habanera, e moldados pelas características de seus executantes brasileiros, nasceu o choro.

Voltamos então ao fenomenal Pixinguinha que alcança projeção nacional com o grupo Os Oito Batutas. O grupo viaja para Paris, onde é aclamado tanto pela imprensa quanto pelo público, a despeito de alguns comentários preconceituosos feitos por críticos nacionais. Suas composições atingem grande sucesso, assim como suas primorosas execuções na flauta. Com o passar do tempo ele perde a embocadura para este instrumento, e passa a se apresentar tocando saxofone. Forma um duo memorável com o flautista e compositor Benedito Lacerda, e seus contracantos no saxofone servem de inspiração para os instrumentistas do violão de 7 cordas. Choros como Carinhoso, Lamentos, Ingênuo, Cochichando, a valsa Rosa e tantas outras mais, atestam a genialidade do compositor Pixinguinha. Ele faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1973.

Podemos enumerar alguns nomes importantes ligados ao Pixinguinha, com grande relevância para o choro. Começamos com João Pernambuco, líder do Grupo de Caxangá, e que deu origem aos Oito Batutas. Os choros de João Pernambuco tem um sabor todo especial, evocando memórias dos violeiros e cantadores nordestinos. Não poderia faltar aqui o também pernambucano Luperce Miranda, notável bandolinista e também pianista e violonista. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tute, Gastão Bueno Lobo e Laurindo Almeida eram os integrantes do famoso regional da Rádio Mayrink Veiga, no final dos anos 30. Junto com Luperce, veio outro músico muito importante, o violonista e compositor Jayme Florence, mais conhecido como Meira, que foi professor do Baden Powell, Rafael Rabello e Mauricio Carrilho, entre outros. Radamés Gnattali, nome de extrema importância no cenário musical brasileiro, foi também um grande compositor de choros. Podemos ainda mencionar Garoto, multi-instrumentista genial, cuja obra para este gênero foi recentemente divulgada, através do livro Choros de Garoto, organizado por Jorge Mello, Henrique Gomide e Domingos Teixeira (IMS/SESC SP,2017). Naturalmente, surge o nome de um gigante do choro, Jacob do Bandolim! De fundamental importância como compositor, instrumentista e pesquisador. Muito da preservação da memória do choro se deve à ele. Entre suas composições, podemos citar Doce de Coco, Noites Cariocas, Receita de Samba,Migalhas de Amor e tantas outras mais.O mago do cavaquinho, Waldir Azevedo, tem seu lugar assegurado por seu virtuosismo e por seus choros, notadamente o Brasileirinho, uma das mais populares músicas do gênero. Os sopristas Abel Ferreira, com Chorando Baixinho, K-Ximbinho, com Sonorosoe Severino Araujo, com Espinha de Bacalhau, por exemplo, deram também grande contribuição ao choro.

Com surgimento da Bossa Nova, que usava uma harmonia moderna nas suas composições, o choro foi perdendo espaço e quase foi relegado ao esquecimento. É interessante notar que alguns dos precursores da Bossa Nova também compunham choros, como Luiz Bonfá, Johnny Alf, Luiz Eça, Tom Jobim e Newton Mendonça...esse panorama começou a se modificar com a apresentação do memorável show realizado em 19 de fevereiro de 1969, com Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim com Época de Ouro, com produção de Ricardo Cravo Albin. Deste show, foram produzidos 3 LPs, pelo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

A década de 1970 marcou o renascimento ou revitalização do choro através de vários eventos de suma importância,como o show “Sarau”, realizado em 1973 no Teatro da Lagoa, com Paulinho da Viola convidando o grupo Época de Ouro, em sua primeira apresentação após o falecimento de Jacob do Bandolim. Ainda no Rio de Janeiro, vieram então o 1º Concurso de Conjuntos de Choro, patrocinado pela Prefeitura, e realizado no Teatro João Caetano, em 1977, vencido pelo conjunto Amigos doChoro. De acordo com o Gerson da Flauta (Gerson Ferreira Pinto), eles ganharam o prêmio de melhor conjunto, e de melhor choro inédito, Recado, do bandolinista do grupo, o grande Rossini Ferreira. O concurso continuou em anos seguintes, revelando conjuntos como Rio Antigo(1978), Nó em Pingo d’Água(1979) e Choro 7(1980).

Em São Paulo, em 1977, foi realizado pela TV Bandeirantes, o Primeiro Festival Nacional de Choro, chamado de Brasileirinho. De acordo com Gerson: “Estimulados pela não imaginada vitória no Rio, e como o Rossini (realmente, grande músico e compositor!) tinha outro choro inédito, Ansiedade, nos inscrevemos no concurso”. Eles ganharam o primeiro prêmio, concorrendo com grandes nomes, como Sivuca, com Músicos e Poetas. Neste festival, ocorreu uma grande polemica entre a corrente tradicionalista e a inovadora. No ano seguinte foi realizado o segundo festival, chamando de Carinhoso, com a música Manda Brasa, de K-Ximbinho, obtendo a primeira colocação. Os festivais estimularam ainda mais o surgimento de grupos de choro, em grande número, e a realização das rodas de choro, que se espalharam por todo o território nacional. Para se ter uma ideia, o Brasileirinho, segundo Paula Veneziano Valente (A Semente da Transformação. O renascimento do choro na década de 70-Tese de Doutorado-USP), teve 1.200 músicas inscritas em todo o país, todas originais, sendo selecionadas 36 delas!

O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ) organizou, nos anos de 1994 e 1995, duas edições do Festival do Choro do Rio de Janeiro, realizadas no Teatro João Caetano. De acordo com o pesquisador e músico Henrique Cazes, tais eventos mesclaram nomes já conhecidos e consagrados, como Altamiro Carrilho, Claudionor Cruz e Joventino Maciel, com os então novatos Pedro Amorim e Bilinho Teixeira, este concorrendo com o choro Oitavo Gole.

O choro prosseguiu em sua jornada vitoriosa, superando obstáculos e modismos, surgindo ainda nos anos noventa os grupos Água de Moringa, Rabo de Lagartixa e o Trio Madeira Brasil, sem deixar de fazer menção a um importante grupo, o Galo Preto, surgido pouco antes desses.

No ano 2000, surge a Escola Portátil de Música, com um compromisso de fundamental importância, o de formar jovens e adultos na linguagem do choro, promovendo oficinas, aulas e palestras, visando difundir o choro, preservar sua memória e formar plateias. Iniciativas importantes, de cunho social, foram e ainda são desenvolvidas pela Portátil, destacando-se Mauricio Carrilho, Luciana Rabello e Paulo Aragão, entre outros professores de grande mérito.

Em 2001, nos meses de setembro e outubro, aconteceu na Sala Cecília Meireles, o festival CHORANDO NO RIO, realizado pelo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Foram apresentadas 36 músicas finalistas, com a música Balançadinho, do bandolinista Jorge Cardoso conquistando o primeiro lugar. O flautista Claudio Camunguelo obteve o segundo lugar com ZéGalinha, ficando o terceiro lugar com o saxofonista Mário Seve, com Fabiano e sua turma. Deste evento, cujo diretor foi o violonista e compositor Luiz Otávio Braga, foi produzido um CD e o Caderno de Memórias Chorando no Rio.Por esse tempo, no térreo de sua sede na Lapa, o MIS-RJ inaugurou o Centro de Referência do Choro, onde aconteciam, às quartas-feiras, encontros entre chorões. Ainda na mesma época, aconteceu no BNDES uma exposição baseada no livro Choro, do Quintal ao Municipal, do cavaquinista, professor e pesquisador Henrique Cazes.

Rapidamente, surgem novos valores, clubes de choro se espalham por todo o pais e também em diversos países do mundo e, entre esses, podemos citar os Clubes do Choro de Viena, Barcelona, Lisboa, Paris e Sydney. No Brasil, podemos destacar, entre muitos, o tradicionalíssimo Clube do Choro de Brasília, Clube do Choro de Belo Horizonte e o Clube do Choro de Santos, proponente da data de 28 de junho, aniversário do Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), como o Dia Estadual do Choro, em São Paulo.

O Rio de Janeiro, mesmo a despeito da pandemia, estará comemorando esta data tão significativa para os chorões e admiradores, o DIA NACIONAL DO CHORO, através de eventos virtuais, como o 3º Festival da Casa do Choro, homenageando o multi-instrumentista Zé Menezes, em seu centenário, e o sanfoneiro Dominguinhos. A frente do evento, os professores Mauricio Carrilho, Luciana Rabello, Cristóvão Bastos, Rui Alvim, Pedro Aragão, Paulo Aragão e Jayme Vignoli.

O Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ) presta sua homenagem ao choro e reverencia seu maior expoente, o flautista, saxofonista, maestro, arranjador e magistral compositor Pixinguinha, e aplaudindo todos os mestres do passado e da atualidade, que mantém vivo e pulsante este gênero genuinamente carioca, mas também do Brasil e do Mundo!

O MIS-RJ possui, em seu acervo, extenso e importante material sobre o choro. Podemos citar as coleções Abel Ferreira, Almirante, Hermínio Belo de Carvalho, Jacob do Bandolim, Lucio Rangel, Radio Nacional, Waldir Azevedo, entre outras. Nessas coleções constam discos, gravações de programas, partituras editadas e os importantes manuscritos e material textual.

Os depoimentos para a posteridade trazem testemunhos de nomes de extrema importância para o choro, como os de Abel Ferreira, Almirante, Altamiro Carrilho, Donga, Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Joel Nascimento, Paulinho da Viola, Pixinguinha, Radamés Gnattali e Waldir Azevedo.

Em seu acervo, o MIS-RJ possui o piano de Ernesto Nazareth, o violão de Rafael Rabello, o cavaquinho de Waldir Azevedo, o banjo e um tipo de bandolim do Zé Carioca, o clarinete do Abel Ferreira e o saxofone do Pixinguinha.

É desejo da atual gestão do MIS-RJ, na pessoa do Presidente Cesar Miranda Ribeiro, concluir a digitalização do acervo dessa instituição para, enfim, disponibilizá-lo. Desta forma, prestará o MIS-RJ um precioso auxílio aos pesquisadores de todas as partes de nosso pais, contribuindo assim para a democratização do acesso aos acervos.

VIVA O CHORO! VIVAS PARA O PIXINGUINHA E TODOS OS CHORÕES!

*Texto do Professor Jorge Mello, colaborador e pesquisador do MIS RJ, especialista em música brasileira.


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