MIS celebra o Dia Nacional do Choro com recordações do 'carinhoso' aniversariante Pixinguinha em seu 'Depoimento para a posteridade' de 1968
- 23/04/2024

A história do "chorinho", de Pixinguinha e do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro é entrelaçada desde sempre e para sempre. Nesta terça-feira (23/04), Dia Nacional do Choro e aniversário do Pixinguinha, que faria 127 anos, o MIS RJ revela detalhes da segunda participação do maestro, arranjador, flautista, saxofonista e compositor na série "Depoimentos para a posteridade", na véspera de seu aniversário de 70 anos, em 1968. Acanhado e de poucas palavras, uma das coisas que fez questão de dizer foi: "eu me emociono com qualquer coisa".
Em 2024, o Dia Nacional do Choro ganhou um gostinho ainda mais especial, já que, após dois séculos de existência, o gênero musical foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no dia 29 de fevereiro de 2024. O MIS participou diretamente do processo, com o apoio institucional, cedendo gratuitamente imagens utilizadas no dossiê e no videodocumentário apreciados pelo Iphan.
A riqueza do material salvaguardado pelo museu fica ainda mais evidente com o envolvimento da instituição no reconhecimento do "chorinho" como expressão cultural nacional. O acervo preserva os relatos de personalidades, como Abel Ferreira, Almirante, Altamiro Carrilho, Donga, Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Joel Nascimento, Paulinho da Viola, Radamés Gnattali e Waldir Azevedo, além de Pixinguinha, que participou da série "Depoimentos para a posteridade" em duas ocasiões: em outubro de 1966 (ano em que o projeto teve início e sendo ele um dos primeiros a participar) e em abril de 1968, um dia antes de seu aniversário.
No projeto, o depoente passa por uma longa entrevista onde fala da infância, da família, da carreira e dos episódios marcantes de sua história. Por seu formato de testemunho oral em primeira pessoa, os relatos são uma fonte de pesquisa fidedigna ao histórico de cada participante.
Ao falar da própria vida e obra um dia antes de completar 70 anos, em 22 de abril de 1968, Pixinguinha relembrou a origem e quais foram as inspirações para choros e valsas que tiveram menor repercussão na carreira, como "Abelardo", "Arthur de Muleta", "Baú do Raul", "Bianca", "Briguei com a Virgínia" e "Cascatinha". Ainda durante o depoimento, que durou cerca de duas horas, Jacob do Bandolim, que estava na banca de entrevistadores, destacou o talento único do amigo com a flauta. Segue um trecho do diálogo:
Jacob do Bandolim
"Me diz uma coisa, Gargalhada é uma xote que você compôs. É a sua peça mais difícil para flauta?"
Pixinguinha
"É, depois... quer dizer, eu acho que é".
Jacob
"É a sua peça mais difícil para flauta?".
Pixinguinha
"Eu acho que é".
Jacob
"Aliás, até hoje só foi tirada pelo Lenir Siqueira, não é? O Lenir Siqueira tirou no Instituto de Educação".
Pixinguinha
"É, mas não sai limpo nunca".
Jacob
"Não saiu limpo, não. Não pode ser. Aquele negócio só Pixinguinha mesmo que pode tirar aquele troço".
Com personalidade simples e tímida, Pixinguinha afirmou não gostar de homenagens, como a que estava recebendo naquele momento e as que ainda iria receber pelos 70 anos de vida e quase 60 de carreira, na época da entrevista (segundo o próprio relato, ele começou na música aos 11 anos). Ao final do depoimento, o músico disse: "gosto de ficar sozinho com vocês, sem homenagem, sem nada. Fazer minhas farras, sem homenagem". O motivo: "eu me emociono com qualquer coisa", justificou Pixinguinha.
O MIS e o choro
O Museu da Imagem e do Som é responsável por salvaguardar alguns dos instrumentos usados por grandes "chorões". Dentre os destaques estão o piano de Ernesto Nazareth, o violão de Rafael Rabello, o cavaquinho de Waldir Azevedo, o banjo e um tipo de bandolim do Zé Carioca, o clarinete de Abel Ferreira e o saxofone de Pixinguinha.
A imagem clássica do saxofonista em ação foi a inspiração para o painel de 10 metros de altura e 150 metros quadrados feito na parede lateral da sede do MIS RJ, na Lapa, em 2021. A pintura de Pixinguinha foi desenhada pelo artista de grafite Cazé, que desenvolve o projeto Negro Muro, com o produtor cultural Pedro Gomes Rajão.
As preciosidades do acervo incluem ainda discos, gravações de programas e partituras editadas, além de manuscritos e material textual preservados em coleções. Dentre as que possuem maior ligação com o estilo choroso de fazer música ou a "música de fazer chorar", estão a Coleção Abel Ferreira, Almirante, Hermínio Bello de Carvalho, Jacob do Bandolim, Lúcio Rangel, Rádio Nacional e Waldir Azevedo, entre outras.
O presidente do MIS RJ, Cesar Miranda Ribeiro, lembra que o setor sonoro preserva algumas das principais canções do gênero musical, que nasceu no século XIX da mistura "abrasileirada" de músicas da Europa, da África e países da América.
"Como falar de 'chorinho' e não lembrar do clássico 'Carinhoso', de Pixinguinha e João de Barro? De 'Brasileirinho', de Waldir Azevedo? Dos presentes dados à sociedade por Chiquinha Gonzaga? Sem falar nos contemporâneos, como Paulinho da Viola... o choro é um presente que, felizmente, teve o reconhecimento formal de sua importância recentemente e o MIS se orgulha por fazer parte de toda essa história", afirma Cesar Miranda.
Para marcar as celebrações do Dia Nacional do Choro e do aniversário de Pixinguinha, o Museu da Imagem e do Som do Rio preparou uma playlist especial exibida nesta terça-feira em três horários: 9h, 15h e 21h, na Web Rádio MIS RJ (www.webradio.mis.rj.gov.br).
Todo o acervo do museu, que integra a rede de equipamentos culturais do Governo do Estado e é vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec-RJ), está à disposição do público e dos pesquisadores. Para acessar o material basta enviar e-mail para saladepesquisa@mis.rj.gov.br e agendar uma visita ao Centro de Pesquisa e Documentação Ricardo Cravo Albin.
Publicado em 23/4/2024 por Fernanda Soares