FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA - O AMOR EM TEMPOS DE GUERRA
- 06/05/2025

O mundo está celebrando os 80 anos do término da II GM, inicialmente na Europa e posteriormente no Japão. As Forças Armadas brasileiras participaram ativamente do esforço de guerra Aliado contra as potências do Eixo.
Nossos guerreiros, na Campanha da Itália e na defesa da Pátria, escreveram páginas gloriosas da história do país. No contexto das homenagens aos nossos heroicos combatentes, há um belo episódio que talvez não seja muito conhecido, principalmente pelos mais jovens.
A Força Expedicionária Brasileira, que combateu no teatro de operações da Itália, era formada por cerca de 25 mil militares, conhecidos como Pracinhas. Em março de 1945, a guerra na Europa já caminhando para o seu final, três de nossos soldados, após cumprirem suas missões, foram autorizados a visitar o lugarejo de Péscia, na região da Toscana.
Já no local, foram convidados para uma festa-baile que se realizava no Cine Garibaldi. Um dos nossos pracinhas - que pouco antes participara da conquista de Monte Castelo - era o gaúcho João Pedro Paz, então com 23 anos, atirador de elite. Quando a orquestra tocou a famosa Moonlight Serenade, de Glenn Miller, o nosso combatente, conforme seu próprio relato, que já trocara olhares com Iole Tredice, uma jovem italiana de 17 anos, tirou-a para dançar.
Era o início de uma linda história de amor em tempos de guerra. Seguiram-se outros encontros entre os jovens apaixonados. Durante quatro meses a relação amorosa se consolidou. Mas a separação era inevitável. A guerra terminara e a FEB, vitoriosa, logo iria retornar ao Brasil. Na despedida, João Pedro prometeu que voltaria para buscá-la, já que não seria permitida a presença dela no navio que transportava os militares.
Anos depois, recordando, emocionado, daquele momento, João Pedro declarou: “eu tinha certeza que nunca mais a veria. Foi o momento mais triste da minha vida”. O desembarque da FEB foi no Rio de Janeiro. Em meio a inúmeras festividades que homenagearam os pracinhas, houve uma grande festa no Cassino da Urca, com a participação de vários artistas de rádio. Entre eles, o famoso cantor Vicente Celestino.
João Pedro relata que estava triste, com saudade da Iole, a quem chamava carinhosamente de “mia Gioconda”. Vicente Celestino, ao vê-lo silencioso, perguntou a razão da tristeza. “Então contei-lhe a história”. O cantor, que também era compositor, fez um enorme sucesso ao compor e gravar, logo depois, a famosa canção “Mia Gioconda”, um dos maiores êxitos de sua carreira.
A música faz sucesso até os nossos dias, tendo sido gravada por Agnaldo Rayol, entre outros. Foi, inclusive, tema da novela “Rei do Gado”(1996). Três meses após a chegada ao Brasil, João Pedro recebeu uma carta da Iole onde ela conta que estava grávida. No dia 1º de julho de 1946, João Pedro e Iole se casaram por procuração, ele em Porto Alegre e ela em Péscia. Sem recursos pagar as despesas para a vinda da esposa para o Brasil, João Pedro teve o apoio de um jornalista da Folha da Tarde que promoveu uma campanha popular e conseguiu recursos para bancar a vinda de Iole, em 28 de outubro de 1946, com seu filho Pedrinho, de 3 meses. O menino viria a falecer aos 12 anos. João Pedro e Iole ainda tiveram uma filha, Ana Maria. O casal permaneceu unido por 75 anos. Só a morte os separou. João Pedro Vaz, herói da Pátria, guerreiro imbatível, vencido, apenas, pelo inexorável, faleceu em 16 de setembro de 2020, aos 97 anos. A sua amada “Gioconda”, Iole Tredici Paz, hoje com 102 anos, segue ao lado da filha, netos e bisnetos. JOÃO PEDRO E IOLE REPRESENTAM A VITÓRIA DO AMOR, DA LEALDADE E DO COMPANHEIRISMO.
Sérgio Pinto Monteiro
*o autor, 85 anos, é historiador, oficial da Reserva do Exército, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da Academia Brasileira de Defesa e do Instituto Histórico de Petrópolis. É patrono e fundador do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. É presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB e presidente da Liga da Defesa Nacional-RJ.
** Texto reproduzido na integra com autorização do autor no site do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro e seu conteúdo fará parte do acervo textual do MIS RJ.
Clique e ouça a música “Mia Gioconda”. Vicente Celestino
Publicado em 06/05/2025 – FMIS RJ