60 Anos da Fundação Museu da Imagem e do Som do RJ: Entre o Passado e o Futuro da Cultura Audiovisual
- 13/06/2025

*Cesar Miranda Ribeiro
Em 3 de setembro de 1965, na sede original situada na Praça XV, nascia, pelas mãos do então governador do Estado da Guanabara, o jornalista Carlos Lacerda, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, o primeiro museu do Brasil dedicado à salvaguarda, preservação e difusão dos registros sonoros e visuais da nossa cultura e história. Um marco pioneiro que antecipava, já naquela época, a importância da memória audiovisual para a identidade de um povo.
Desde sua fundação, a FMIS RJ contou com a atuação decisiva de figuras como Maurício Quadrio, seu primeiro diretor; Henrique Foréis Domingues, o lendário Almirante e maior autoridade do rádio brasileiro; e Ricardo Cravo Albin, que também dirigiu o museu, idealizou os célebres Depoimentos para a Posteridade e foi um dos grandes incentivadores da criação de museus da imagem e do som em diversos estados do país.
Atualmente, a Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (FMIS RJ) conta com duas sedes: a histórica sede da Praça XV e a sede da Lapa, que juntas abrigam núcleos essenciais de preservação e promoção da memória fluminense.
Desde então, ao longo de seis décadas, a FMIS RJ consolidou-se como protagonista em ações culturais, educativas e de preservação patrimonial. Seu acervo, que hoje chega a quase 1.000.000 de itens entre discos, fitas, filmes, documentos, fotografias e depoimentos orais, é referência nacional.
Esse acervo está organizado em 44 coleções documentais, que abrangem temáticas e suportes diversos, e guardam preciosidades da história da música, do rádio, da televisão, do cinema, do jornalismo, da fotografia e da vida social e política do Brasil. Entre as coleções de destaque estão o acervo Almirante, com registros únicos da era de ouro do rádio; a coleção Rádio Nacional, com milhares de itens sobre a mais importante rádio do país das décadas de 40 e 50; a coleção de Depoimentos para a Posteridade, composta por mais de mil entrevistas com personalidades fundamentais da cultura brasileira; além de coleções dedicadas a grandes nomes como Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Marlene, Dorival Caymmi, Nara Leão, José Wilker e tantos outros, reunindo documentos sonoros, visuais e textuais de inestimável valor histórico e artístico.
A Fundação também foi responsável pela criação de diversos projetos emblemáticos para a sociedade, como o selo MIS fonográfico, exposições históricas, documentários, ciclos de palestras, oficinas e ações itinerantes por todo o território fluminense. Em sintonia com a era digital, lançou a primeira web rádio vinculada a um museu, a Rádio MIS RJ, que inaugurou uma nova forma de difundir o acervo e ampliar o diálogo com o público por meio da música e da oralidade histórica, e está disponível 24 horas para o Brasil e com alcance em todos os continentes, em radio.mis.rj.gov.br
Mesmo em tempos de pandemia (2020–2021), a FMIS RJ deu continuidade aos Depoimentos para a Posteridade, produzindo em 2021 o primeiro depoimento totalmente online com Dirceu Rabelo, histórico locutor da TV Globo. O depoimento foi realizado de forma remota, respeitando os protocolos sanitários da época, e tornou-se símbolo do esforço da instituição em manter viva a preservação da memória oral em meio às adversidades.
Outro marco essencial foi a criação da primeira Fototeca Estadual do Rio de Janeiro, instalada na sede da Lapa, reunindo e preservando milhares de imagens que registram décadas de transformações culturais, urbanas e sociais do estado. Esse importante núcleo de memória visual integra um conjunto mais amplo de ações que continuarão sendo desenvolvidas ali. A sede da Lapa seguirá como polo acadêmico da Fundação, voltado para a cultura, a educação e a preservação da memória. Um ambiente permanente de formação, pesquisa e reflexão sobre a história do nosso povo e seus laços culturais, garantindo a continuidade da dimensão educativa da FMIS RJ.
A FMIS RJ também foi protagonista de mais um feito histórico: em 2022 realizou o primeiro Depoimento para a Posteridade interligando, por videoconferência, a sede da Praça XV e a Estação Antártica Comandante Ferraz. O depoente no Rio de Janeiro foi o Contra-Almirante (FN) José Elkfury, e a gravação aconteceu em homenagem aos 40 anos do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). A operação contou com o apoio técnico e logístico do também depoente, Capitão de Fragata Alessandro Gurski, então comandante da Estação. Esse registro inédito, feito entre o continente sul-americano e o continente gelado, celebrou os pioneiros da presença brasileira na Antártica e reafirmou a missão da Fundação de documentar a história do país, mesmo nos contextos mais remotos. A ação integrou as celebrações do evento organizado pela FMIS RJ, em parceria com a Marinha do Brasil e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Agora, em 2025, às vésperas de completar 60 anos, a FMIS RJ vive um dos momentos mais significativos de sua história institucional: a entrega de sua nova sede definitiva, o MIS Copacabana. Após anos de espera e superação de entraves, o projeto finalmente se concretiza graças ao empenho do Governador Cláudio Castro, da Secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa Danielle Barros, com suas respectivas equipes, que não mediram esforços para realizar esse sonho coletivo.
A nova sede em Copacabana será o palco de grandes exposições, experiências imersivas, tecnologia de ponta e entretenimento cultural de excelência. Um espaço moderno, inclusivo e pulsante, que convida o público a vivenciar a cultura brasileira de forma interativa e emocionante.
A luta para entregar esta obra foi, acima de tudo, a luta por um espaço digno para a cultura do nosso país. Com a força da memória e o olhar voltado para o futuro, o novo MIS Copacabana reafirma o compromisso do Estado com a preservação da história e com a promoção do acesso à cultura como um direito de todos os cidadãos.
Junho de 2025
*O autor, Cesar Miranda Ribeiro, é presidente da FMIS RJ, jornalista e radialista profissional.