Lô Borges: o som das esquinas que se eternizou
- 03/11/2025
Faleceu ontem, 2/11, aos 73 anos, o cantor e compositor Lô Borges, um dos nomes mais inventivos e inspiradores da música brasileira. A notícia encerra uma vida, mas não um som, aquele que, há mais de cinco décadas, ecoa das esquinas de Minas Gerais para o mundo, em forma de melodias luminosas, harmonias ousadas e versos que transformaram a sensibilidade mineira em linguagem universal.
“A F.MIS tem um papel fundamental na preservação da memória da música brasileira, e Lô Borges é parte essencial dessa história. Sua obra traduz uma Minas que canta para o mundo, e ter registros de sua trajetória em nosso acervo é motivo de grande orgulho”, destacou o presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Cesar Miranda Ribeiro.
No acervo do museu, existem vários itens relacionados a Lô Borges, entre registros iconográficos, textuais, audiovisuais e sonoros. São reportagens, encartes, notas, apresentações musicais e até um trecho do Depoimento para a Posteridade de Milton Nascimento, no qual o parceiro e amigo relembra os caminhos compartilhados, uma amizade que se confunde com a própria história do Clube da Esquina.
Nascido em Belo Horizonte, em 10 de janeiro de 1952, Salomão Borges Filho cresceu cercado de música. Em casa, formou conjuntos com os irmãos, entre eles Márcio Borges, seu principal parceiro, e Telo Borges, autor, ao lado de Márcio, da canção “Vento de Maio”. Ainda adolescente, começou a moldar o estilo que, anos depois, revolucionaria a canção brasileira ao lado de Milton Nascimento, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Toninho Horta, Wagner Tiso e tantos outros.
Em 1972, Lô Borges inscreveu definitivamente seu nome na história ao participar do álbum “Clube da Esquina”, ao lado de Milton Nascimento. Das 21 faixas do disco, oito levam sua assinatura, entre elas “O Trem Azul”, “Tudo que Você Podia Ser” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”. No mesmo ano, lançou seu primeiro trabalho solo, o cultuado “Disco do Tênis”, cuja sonoridade influenciou gerações e ainda hoje é reverenciada por artistas no Brasil e no exterior.
Autor de clássicos como “Paisagem da Janela”, “Para Lennon & McCartney”, “Equatorial” e “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”, Lô Borges manteve, ao longo de sua trajetória, uma produção constante e coerente, marcada pela busca da beleza e pela delicadeza poética. De “Via Láctea” (1979) a “Chama Viva” (2022), sua discografia revela um artista inquieto, que fez da melodia um território de liberdade e invenção.
Em tempos recentes, continuava em plena atividade. Em 2024, lançou o single “Tobogã”, parceria com Manuela Costa e com participação de Fernanda Takai, preparando um novo álbum de inéditas. No ano de 2025, percorreu o estado do Rio de Janeiro com o Projeto Sesc Pulsar, reafirmando sua força nos palcos e o carinho do público por sua obra.
Mais do que um músico, Lô Borges foi um construtor de pontes sonoras, entre o passado e o futuro, Minas e o mundo, o íntimo e o coletivo. Seu legado segue preservado e vivo, inclusive no acervo da F.MIS, que guarda não apenas documentos e sons, mas também a memória de um artista que fez da canção brasileira um lugar de sonho, amizade e invenção.
Publicado em 03/11/2025 por Marcelo Egypto





