Haroldo Costa: Uma vida em cena, na palavra e na memória do Brasil
- 15/12/2025
Morreu no último sábado, 13/12, Haroldo Costa, uma das figuras mais completas e fundamentais da cultura brasileira. Jornalista, escritor, produtor cultural, ator e sambista, Haroldo construiu uma trajetória múltipla, profundamente comprometida com a valorização da cultura afro-brasileira, da memória popular e da afirmação identitária no Brasil. Sua partida encerra uma presença física, mas não silencia uma obra que segue viva nos palcos, nos livros, no audiovisual e na memória cultural do país.
“Haroldo Costa é uma das grandes vozes da cultura brasileira. Sua trajetória se confunde com a própria história da luta por representatividade, memória e afirmação cultural no país. A F.MIS, instituição em que ele já foi vice-presidente, tem orgulho de preservar sua voz, sua imagem e seu pensamento, garantindo que seu legado siga acessível às futuras gerações”, afirma o presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Cesar Miranda Ribeiro.
O acervo da F.MIS guarda mais de 90 itens relacionados a Haroldo Costa, entre registros textuais, iconográficos, audiovisuais e sonoros. Haroldo deixou ainda três depoimentos fundamentais para a série Depoimentos para a Posteridade da F.MIS, gravados em 1988, 1991 e 2016, nos quais compartilha sua trajetória, reflexões sobre cultura, política, samba, teatro e identidade negra, eternizando sua voz e seu pensamento como patrimônio da memória brasileira.
Nascido no Rio de Janeiro, Haroldo perdeu a mãe aos dois anos de idade e foi levado para Maceió, onde viveu com os avós paternos. Foi ali, por influência de uma tia, que teve os primeiros contatos com o folclore e as tradições populares brasileiras, experiências que marcariam profundamente toda a sua obra. Anos depois, de volta ao Rio para viver com o pai, aproximou-se da militância estudantil e da política, fundando a Associação Brasileira de Estudantes Secundários (ABES) e presidindo a Comissão Preparatória da União Brasileira de Estudantes Secundários (UBES), ambas sediadas no prédio da UNE.
O acaso o levou definitivamente ao teatro. Em 1948, incentivado pelo pai, voluntariou-se no Teatro Experimental do Negro, idealizado por Abdias do Nascimento. Um dia, ao substituir um ator ausente numa leitura, iniciou sua carreira nos palcos, estreando na peça “O Filho Pródigo”, de Lúcio Cardoso. A partir dali, não parou mais. Fundou o Teatro dos Novos e, posteriormente, o Teatro Folclórico Brasileiro, companhia dedicada às danças e expressões culturais nacionais, com a qual percorreu mais de 25 países ao longo de cinco anos com o espetáculo “Brasiliana”.
Sua atuação atravessou também o cinema e a televisão. No cinema, dirigiu e atuou em “Pista de Grama” (1958) e participou de filmes como “Cléo e Daniel” (1970), “Tanga – Deu no New York Times” (1986) e “Papá – Rua Alguém 555” (2003). Na televisão, integrou elencos de novelas e minisséries marcantes, como “Pantanal”, “Kananga do Japão”, “Chica da Silva” e “Chiquinha Gonzaga”, além de atuar como produtor na TV Globo em programas históricos.
Paralelamente, Haroldo construiu uma sólida carreira como escritor e pesquisador. Publicou obras fundamentais como “Fala crioulo: o que é ser negro”, “Salgueiro: Academia de Samba”, “Na cadência do samba”, “100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro”, “Ernesto Nazareth – Pianeiro do Brasil”, entre muitos outros títulos que se tornaram referência nos estudos sobre samba, carnaval, cultura afro-brasileira e identidade nacional.
Em 2015, tomou posse na Academia Brasileira de Arte, ocupando a cadeira nº 32, patronímica de Castro Alves. No mesmo ano, foi homenageado pelo Instituto Cultural Cravo Albin com uma exposição dedicada à sua vida e obra, além de ser capa da revista “Carioquices”, que reuniu um amplo panorama de sua trajetória artística e intelectual.
A Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro lamenta profundamente o falecimento de Haroldo Costa e se solidariza com familiares, amigos e admiradores. Seu legado permanece vivo, preservado na memória cultural do Brasil e no acervo da F.MIS como testemunha de uma vida dedicada à arte, à cultura, ao samba e à luta por um país mais consciente de sua própria história.
Publicado em 15/12/2025 por Marcelo Egypto






